O Velho e a Parreira

Há muito tempo atrás, em um reino distante, o rei resolveu dar um passeio pelo seu reino para conversar com o seu povo e verificar como as coisas andavam, coisa que todo governante deve fazer de vez em quando.

Em suas andanças, chegou a uma fazenda onde havia um senhor já de certa idade plantando uvas. Mas não eram uvas quaisquer, eram uvas especiais. Que levavam algo em torno de 30 anos para dar a primeira safra.

Vendo aquilo, o rei ficou muito curioso e mandou chamar aquele senhor, dizendo assim que o viu se aproximar:

– Meu bom homem, por que está plantando esse tipo de uva? Ela demora muito a produzir e, provavelmente, quando a primeira safra vier você já terá morrido, assim como eu mesmo!

O senhor respondeu ao Rei:

– Sim, majestade, possivelmente! Mas se eu não puder saborear dessas uvas, que são as mais deliciosas que existe, quero que pelo menos os meus filhos e netas possam fazê-lo por mim.

O rei ficou muito admirado e feliz por encontrar alguém que pensasse de forma tão sábia em seu reino e disse:

– Como é importante encontrar pessoas que se importam com as gerações que virão. Façamos o seguinte trato: na época de colher essas uvas, se você e eu estivermos vivos, leve-me um cesto destas uvas para saborearmos juntos.

Trato feito, o rei se despediu e continuou o seu caminho.

Passaram-se 30 anos, chegou o tempo da colheita e tanto o rei quanto o senhor, ambos já muito velhos, estavam vivos.

O fazendeiro encheu duas cestas de uvas e levou-as para seu monarca.

O rei ficou muito feliz ao saber que aquele fazendeiro ainda vivia e que havia se lembrado de um trato tão antigo. Recebeu-o carinhosamente, experimentou das uvas – que de fato eram saborosíssimas – e conversaram muito tempo sobre as coisas do reino, de suas famílias, enfim, não é de se admirar que duas tão pessoas com viveram tanto tenham muito a conversar.

Antes de se despedir do velho fazendeiro, o rei pediu que o seu primeiro-ministro enchesse as duas cestas que havia trazido as uvas de ouro e ainda providenciasse outras duas sacas ouro e pedras preciosas. Era uma boa fortuna que certamente garantiria as duas ou três próximas gerações daquele senhor.

Logo, por todo o reino, correu o boato que o Rei estava trocando uvas por ouro, o que despertou a cobiças de algumas pessoas, inclusive de uma senhora que plantava uvas.

Era uma velha rabujenta, que ao ouvir o caso, exclamou:

– Ora, mas se deu ouro para um, vai ter que me dar também.

Preparou logo quatro cestas de uva, dessas comuns, que em menos de um ano já estão a dar a primeira safra, e foi ao palácio.

Lá chegando e conseguindo uma audiência com o rei, foi logo dizendo:

– Aqui estão minhas uvas, também quero ouro!

Ao ouvir aquilo, o rei ficou furioso, nunca se sentiu tão desrespeitado! Imediatamente, mandou pegar aquela mulher e ordenou que a obrigassem a comer todas as uvas que havia trazido, além de levar 100 chibatadas.

Logo, por todo o reino, correu o boato que o Rei era injusto. A uns dava ouro a outros, chibatadas…

Mas não havia sido dada ao povo a oportunidade que dou a vocês, o conhecimento de toda a história.

Contado por Gislayne Matos na Oficina Introdutória do Projeto Xeromoá, realizada em Janaúba, Janeiro de 2002.
Reconto de Ébia Maria Lopes e Keu Apoema.

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