Encerramento: coisas com as quais se aprende

Sob a direção de Alba Soares, professora de teatro, Seu Wardo, contador de histórias de Nova Ilhéus, com o qual encontramos no período da itinerância, veio pela trilha central da escola a cavalo montado e vestido de vaqueiro.

Parou em frente ao refeitório, onde estávamos todos a sua espera, recitando uma poesia e nos chamando ao salão para ouvir histórias. Uma escada íngreme e ainda com um corrimão por fazer nos leva a outro espaço que fica acima do refeitório, dividido em um pequeno escritório e o salão onde se desenvolveram todas as nossas oficinas.

Os próprios meninos a decoraram, chitões, sementes, esteiras no chão e cadeiras em auditório. Pelo chão, caixas com fotos que haviam tirado durante a itinerância, inclusive uma de seu Wardo com seu neto, que contou o trecho de um longo cordel. Também veio Helena, contadora de histórias e professora de uma comunidade próxima a Camamu, Garcia. Depois contaram histórias os meninos, eu, vimos as fotos e, ao final, Alba de novo batutou o povo dos tambores. Tivemos ainda comidas típicas do povo de santo.

Em Ilhéus, havia um todo que se integrava e entrelaçava, os meninos da escola que nos levaram a trilhar por algumas comunidades e, depois, meninos e comunidades se encontraram nesse momento singular, que poderíamos repetir incessantemente pelas próprias comunidades. Conseguimos mesmo integrar nesse momento último contação de histórias e fotografia, estavam ambos ali, à mostra, expressos, no trabalho dos meninos e no nosso.

Em Escada, foi tudo diferente. Trabalhamos com professoras que vinham de diferentes partes da cidade, ainda que a maioria fosse do próprio subúrbio. Os meninos, por sua vez, não eram necessariamente do subúrbio, mas de uma ocupação de sem-tetos próximo ao Ponto de Cultura Sofia. Públicos distintos com quem desenvolvemos propostas semelhantes. O urbano e o rural, no entanto, mostraram suas singularidades. Aqui um pouco mais de diversidade, de caos, de questões pungentes como violência, lá um público mais homogêneo, a presença de fortes marcas de oralidade ainda que impressionantemente ameaçadas pela televisão. Aqui, um público mais fragmentado, lá mais coeso, em torno da escola.

Diferentes experiências e diferentes possibilidades de reflexão. Conclusões? A principal é que precisariamos de mais tempo, em ambos os casos, para entrarmos mais e mais nos meandros de cada processo: reformulando, pesquisando, reestruturando. No mais, ambos os percursos foram surpreendentes. Por fim, confiamos nas sementes que andamos a espalhar em ambos os espaços.

Assim contamos e assim por enquanto ficamos.

Keu Apoema

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